quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Messi, a superação de um autista.

José Luiz Tejon Megido  - Revista Exame

Messi
  
Liderar o que parece ser deficiência, transformando potencial sofrimento em superação será cada vez mais o desafio humano no futuro. Iremos compreendendo que cada aparente ponto fraco costuma oferecer em contrapartida ângulos exclusivos e fortes em compensação.
Sabemos do fortalecimento dos demais sentidos em deficientes visuais, das canalizações de força nos atletas paraolímpicos, e em formas de inteligência superior nas pessoas que seriam tidas como mentalmente inadequadas em outros tempos.
Messi tem Síndrome de Asperger, um autismo leve que o dota de um impressionante talento de foco e de concentração na repetição do que deve ser feito para obter êxito nas jogadas do futebol. Ele tem o olhar que não olha, mas que foca no objetivo de maneira completa. Em função do autismo também busca escapar das pressões das entrevistas, das badalações sociais e mesmo na propaganda consegue pronunciar a palavra “listo” (pronto) meio sem jeito…mas com todo jeito no foco de sua arte esportiva.
Newton e Einstein também tinham níveis de autismo, assim como descobrimos cada vez mais seres humanos tidos como diferentes, e que suas diferenças podem fazer toda a diferença para a sociedade humana dos entre aspas “normais” .



Crianças com autismo podem desenvolver talentos específicos

 

Inclusão é o tema do último episódio da série Autismo: universo particular.

Fonte: Rede Globo de Televisão - Programa Fantástico - Universo Particular

Uma das maiores preocupações das famílias que estão no universo particular do autismo é com o futuro dessas crianças. Elas devem ir para escolas regulares ou especiais? E, quando crescerem, vão ter condições de conseguir um emprego?
No último episódio da série, o doutor Drauzio Varella mostra que o diagnóstico de autismo, em muitos casos, não impede que a pessoa trabalhe, seja produtiva e construa uma vida.

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O autismo afeta quase todos os aspectos do comportamento: a fala, os movimentos do corpo, o interesse por amizades, a vida social, as emoções. O mundo autista é muito variado. Vai dos que nem falam, até aqueles com habilidades incríveis. Como educar crianças com necessidades tão diferentes? Colocá-las em escolas comuns ou especiais?
Como incluir no mercado de trabalho pessoas com tanta dificuldade para compreender as intenções dos outros? Inclusão. É o tema do último episódio da série Autismo: universo particular.
O autismo deve ser diagnosticado precocemente para que a criança possa ter acesso a profissionais especializados. É nessa fase inicial que o tratamento tem os melhores resultados.
EDUCAÇÃO
Crianças com autismo podem desenvolver talentos específicos em determinadas áreas do conhecimento.  Desde que essas habilidades sejam identificadas e estimuladas de forma inteligente. Esse passo inicial muitas vezes depende da escola.
“Se ele puder, deve ficar numa escola regular até o momento em que ele começa a sentir que ele não é igual aos outros, que ele está sempre atrás demais e que isso comece a trazer problemas para ele. Mas eu não vejo por que um autista com deficiência intelectual severa estar dentro de uma classe regular. Ele está perdendo tempo. Ele não está se socializando”, avalia o doutor Salomão Schwartzman.
O Lucas sentiu na pele esse problema. Até a quinta série, frequentou uma escola convencional. “Eu não lembro o que, mas não me sentia bem com aquela gente. Não pareciam ser, como diziam, amigos de verdade. Como se rissem atrás de mim, sobre minhas costas e nunca tinha notado”, lembra o jovem.
Crianças com autismo são alvo fácil para as maldades típicas da infância. Agora, Lucas está matriculado na AMA, a Associação de Amigos do Autista, e também estuda em casa, com a ajuda da mãe.
Em Curitiba, os pais de Thomas e Nicholas encontraram uma fórmula intermediária para a educação dos filhos.
Thomas, que tem um tipo mais leve de autismo, estuda em uma escola particular de alto padrão. Aos 15 anos, Thomas tem um talento especial para matemática avançada e ciência da computação.
Nicholas, que tem uma forma mais grave de autismo, frequenta a mesma escola do irmão em meio período, e complementa a educação em uma clínica especializada em terapia comportamental, onde conta com a ajuda de profissionais de diversas áreas.
Uma das escolas mais preparadas para tratar e educar pessoas com autismo fica em Nova Jersey, nos Estados Unidos.
É uma escola pública totalmente adaptada para os 250 alunos, entre 3 e 21 anos. Lá, os alunos aprendem profissões que possam desempenhar mesmo com as limitações que apresentam.
Numa área que imita uma rua de comércio, eles entendem como se organiza a correspondência de um escritório, por exemplo, ou como se trabalha em um banco ou supermercado.
No Brasil, o acesso a essa qualidade de ensino depende do poder aquisitivo das famílias.
Quem tem condições encontra boas escolas particulares como uma em São Paulo, onde 80 alunos com o transtorno convivem em harmonia com as demais crianças. Para conseguir emprego para os alunos, a escola fez uma parceria com um grande banco.
Desde dezembro de 2012, o autismo é considerado, por lei, um tipo de deficiência mental. As pessoas que apresentam esse transtorno têm direito a benefícios na rede pública de saúde e de ensino.  A aprovação da lei só foi possível graças à dedicação de muitos pais, em especial Berenice Piana, mãe de um rapaz com autismo.
“A lei é, na verdade, a Carta Magna dos direitos das pessoas com autismo no Brasil. O ponto principal dela é: reconhece a pessoa com autismo como pessoa com deficiência.  Segundo: o direito ao diagnóstico precoce. O tratamento multidisciplinar são vários profissionais para tratar uma pessoa com autismo. O direito à matrícula na rede regular de ensino. É proibido negar a matrícula a uma pessoa com autismo, sob pena de multa”, ela explica.
Mas, na realidade, ainda há um longo caminho a percorrer. Muitos pais não conseguem atendimento para seus filhos.  Foi o que aconteceu com o Matheus. Ele é deficiente visual e tem autismo. A mãe dele, Eliane, ganhou na Justiça o direito de o filho receber aulas em casa com um professor da rede pública. Mas os livros didáticos oferecidos não estão em Braille, o sistema de leitura para cegos.
Em uma escola municipal, em São Paulo, Yasmin, de 7 anos, recebe a orientação de profissionais em uma sala multifuncional, adaptada para a realização de atividades específicas. Além disso, crianças com autismo devem ser acompanhadas por estudantes de pedagogia durante as aulas.  Mas não há ainda, na rede pública do município, estagiários suficientes. A prefeitura de São Paulo diz que está contratando mais estagiários.
MERCADO DE TRABALHO
A inclusão no mercado  de trabalho é difícil, mas existe. É o caso de Alberto. Ele tem 21 anos e foi diagnosticado com autismo aos 3. Desde pequeno, ele estuda e consegue fazer a maioria das atividades diárias por conta própria.
Como mostrado no último episódio, com treinamento adequado, algumas pessoas com autismo atingem um grau razoável de independência - o suficiente, por exemplo, para andar pela cidade e usar o transporte coletivo.
Alberto é balconista em uma farmácia em São Paulo. Mas atingir esse nível de autonomia, infelizmente, não é regra entre as pessoas com autismo.
Pelo poder de concentração em uma atividade e à atenção aos detalhes, pessoas com autismo podem ser profissionais imbatíveis.
Numa empresa fundada na Dinamarca, hoje presente em oito países, a maioria dos empregados está dentro do espectro do autismo. Ela vende serviços de programação de computadores e processamento de dados. a tecnologia é um campo excelente para o desenvolvimento das capacidades dos autistas.
O gerente da empresa se orgulha da política de inclusão. Esse é o começo de carreiras brilhantes para essas pessoas. Com suas capacidades desenvolvidas, esses profissionais vão para trabalhos cada vez mais complexos, e se tornam independentes.
Quando os pais não estiverem mais presentes, eles poderão ter vidas produtivas e se sentir realizadas.
FUTURO
O doutor Drauzio Varella conta que, durante as gravações da série, aprendeu que o autismo desorganiza a comunicação e as funções sociais. Que as manifestações iniciais podem ser notadas já nos primeiros meses de vida e que é fundamental reconhecê-las o mais cedo possível, em uma fase em que o cérebro tem grande plasticidade para formar novas conexões, em resposta aos estímulos educativos.
Para compreender e educar uma criança com autismo, é preciso esforço, dedicação e sabedoria para penetrar em seu universo, e fazer com que o nosso lhe pareça mais acessível e menos absurdo.
Kevin já começou esse processo. Por enquanto, ele está em tratamento clínico no Centro de Atenção Psicossocial, o CAPS. A família de Idryss comemora as pequenas conquistas. Hoje, os pais vão deixá-lo em casa com uma amiga e ter a primeira noite romântica em muitos anos,

http://especial.g1.globo.com/fantastico/autismo/index.html

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Autismo se instala nos 3 primeiros anos de vida; conheça possíveis sinais do transtorno,

 

No segundo episódio da série “Autismo, universo particular”,no Programa Fantástico, da Rede Globo, Drauzio Varella investiga os sinais do autismo e por que é tão difícil chegar a um diagnóstico.

O ator Marcelo Serrado leva o drama do autismo para os palcos e revive um personagem marcante do cinema: Rain Man, sucesso nos anos 80. “Fazer um autista é um presente para qualquer ator. Porque esses caras são especiais”, diz o ator.
Como e quando o autismo se manifesta? Quais os primeiros sintomas? E por que é tão importante começar o tratamento o mais cedo possível?
O autismo se instala nos três primeiros anos de vida, quando os neurônios que cordenam a comunicação e os relacionamentos sociais deixam de formar as conexões necessárias. Embora o transtorno seja incurável, quando demora para ser reconhecido, esses neurônios não são estimulados na hora certa e a criança perde a chance de aprender.
Estudo mostrou que, enquanto nos Estados Unidos o diagnóstico é feito antes dos 3 anos de idade, no Brasil o transtorno só é identificado quando a criança já tem de 5 a 7 anos. Esse atraso agrava as deficiências do autismo e traz mais sofrimento para as famílias.
Questionário ajuda a identificar possíveis sinais de autismo
O caso de Kevin
Há seis anos, Vera e Reginaldo procuram um diagnóstico que os ajude a compreender os males que afligem o filho Kevin. Você conheceu o Kevin no domingo passado. Vimos que ele se levanta diversas vezes, de madrugada, pra tomar banho. Desde pequeno, o menino começou a apresentar comportamentos peculiares.
Quando percebe que está chegando o momento de comer, Kevin fica agressivo. O som do liquidificador é especialmente irritante no autismo. Kevin se alimenta de papinha, ele recusa alimentos sólidos.
“A gente já foi em neuro, psiquiatra, psicólogo, pediatra, clínico, tudo quanto é médico a gente já foi. Uns falam que é retardo mental grave, outros falam que não. Tem médico que fala que ele não tem nada, que pode ser uma birra, uma manha”, diz a mãe.
O neuropediatra Salomão Schwartzman analisou vídeos de quando Kevin era bebê. Aos quatro meses, ele se comportava como qualquer criança. Mas com um ano idade, ele já apresentava pequenos sinais de autismo.
“Fica olhando sempre na mesma direção. Ele não explora mais o ambiente. E uma face sem muita expressão”, analisa o médico.
Foi somente no mês passado que a peregrinação terminou. Kevin recebeu o diagnóstico de autismo - um diagnóstico tardio. A demora em identificar o transtorno dificulta o tratamento. Depois de seis anos, a família de Kevin pôde, finalmente, procurar ajuda especializada.
Kevin perdeu a oportunidade de receber tratamento nas fases iniciais de seu desenvolvimento. Agora, será preciso muito trabalho para correr atrás dos prejuízos.
“A gente sempre fala que a gente não vai ficar assim pro resto da vida, como que será que vai ser ele sozinho? Quem vai querer cuidar dele? Como será que vai ser a vida do Kevin? A gente se preocupa já com isso. 'E complicado, né?”, diz a mãe de Kevin.
Sinais de autismo
Quais são os sinais típicos do autismo? Algumas características podem ajudar você a desconfiar quando a criança tem autismo. Desconfiar porque quem vai fazer o diagnóstico é o especialista.
Um dos sintomas mais comuns é quando a criança não responde ao ser chamada pelo nome.  A criança parece surda. Você chama pelo nome, ela não responde.
Na presença de outras crianças, ela se isola. Não participa de brincadeiras coletivas. Ela evita o contato físico. Você vai fazer um carinho e ela se afasta. Parece que tomou um choque. É hiperativo. Anda pra lá e pra cá, mexe em tudo, não para um minuto.
Mais uma característica marcante: não apontar com o dedo para o objeto que quer alcançar.
Ela pega no seu braço e leva até ele, como se usasse a sua mão como uma ferramenta.
A relação com os objetos - brinquedos, por exemplo - é diferente do esperado. Ela usa os objetos de uma forma muito particular. Ela pega um carrinho, vira ao contrário e é capaz de passar horas girando a rodinha.
Também não sabemos por que, mas pessoas com autismo parecem ter uma sensibilidade alterada. Podem cair no choro por causa de um simples toque. Mas, às vezes, se machucam feio e não demonstram sentir dor. Mesmo em dias muito frios, não se preocupam em se agasalhar.
A criança com autismo foge do contato visual. “Mesmo às vezes na primeira mamada. E é o momento em que seguramente o bebê olha nos olhos da mãe já com horas de vida. Algumas vezes você consegue detectar a falta desse contato”, explica Salomão.
Hoje, testes clínicos permitem entender melhor essa dificuldade.
O caso Gabriel
“O diagnóstico do Gabriel tem uns quatro anos mais ou menos. Porque até então eu não sabia. Sabia que o Gabriel era um menino especial”, conta a mãe do que menino que tem hoje 16 anos. 
Nós fomos com ele fazer um teste. O programa de computador registra para que ponto a pessoa está olhando quando vê uma figura na tela.
“Quando você mostra numa tela um bebê e um relógio, normalmente eles olham muito mais pro relógio. Eles não têm tanto interesse pra olhar pro bebê. Quando você mostra um rosto, um de nós deve olhar pros olhos - como eu estou olhando pro teu agora. Eles em geral olham pra outra parte do corpo”, explica Salomão.
Ao ver uma foto, Gabriel mostrou que é capaz de olhar nos olhos de uma pessoa. Mas revelou outro sintoma comum no autismo. Às vezes, ele não consegue interpretar corretamente o contexto de uma cena.
No autismo, pode existir uma dificuldade em interpretar figuras. “O que a gente imagina? Que provavelmente ele observa o mundo de forma fragmentada. Se você somar essa dificuldade de visualizar o contexto, mais as dificuldades que eles têm de linguagem, você começa a perceber que o mundo deles é muito diferente do nosso”, observa Salomão.
De volta ao consultório, mais um teste com Gabriel.  Desta vez, para detectar se Gabriel é capaz de reconhecer expressões faciais. Gabriel diz que está vendo uma pessoa de boca aberta.
Para a maioria das pessoas, o reconhecimento é intuitivo. Mas Gabriel demora, procurando pistas que o ajudem a entender o que está vendo.
O caso Ana Beatriz
Drauzio Varella foi até Santo André, na grande São Paulo, para conhecer a Ana Beatriz, de 4 anos. “Eu fiz sete fertilizações pra ter ela. Graças a Deus ela veio. Eu tive ela com 46 anos”, conta a mãe, Marinês Câmera.
A mãe conta que Ana Beatriz nasceu prematura e se desenvolveu normalmente até os 2 anos. Mas quando entrou na escola, a mãe percebeu que tinha algo estranho, com 2 anos ela não falava.
Alguns bebês com autismo nem chegam a falar, é bastante comum. Outros começam a pronunciar as primeiras palavras, mas de uma hora para a outra regridem. Um choque para a família.
Apesar de não falar, Ana Beatriz é uma criança cheia de habilidades - esperta mesmo.
Quando Drauzio Varella esteve em sua casa, ela mostrou que é capaz de entender números e organizar os brinquedos.
“Se você colocar fora da ordem, por exemplo, ela vai lá, empurra tudo, e ela coloca na ordem”, explica a mãe.
Marinês sabe que a filha tem autismo, mas está cheia de dúvidas quanto ao grau do transtorno.
“Ela entrou no consultório e me ignorou totalmente. Isso já é uma coisa que chama um pouquinho a atenção, porque não é esperado numa criança com desenvolvimento social típico”, aponta Salomão.
Ao ganhar uma caixa de brinquedos, Ana Beatriz reage de forma inesperada. Em vez de brincar com os trenzinhos, ela começa a organizá-los em fileira, cada um por tamanho e cor, todos voltados para a mesma direção.
“Não é um brincar lúdico. Isso é uma organização, é uma coisa sistemática. Eles são extremamente sistemáticos. O mundo da criança com autismo é um mundo que ela tenta classificar, organizar, sistematizar”, diz Salomão.
A avaliação, feita a nosso pedido, foi até certo ponto tranquilizadora. “Ela não é um caso de autismo severo. Porque ela não demonstra até agora uma deficiência intelectual. Ela demonstra claramente que ela sabe o que quer fazer, identifica corretamente, organiza de forma absolutamente racional”, explica Salomão.

http://g1.globo.com/fantastico/videos/t/edicoes/v/veja-caracteristicas-que-podem-ajudar-a-desconfiar-quando-a-crianca-tem-autismo/2750954/