quarta-feira, 24 de julho de 2013

Necessidades especiais, amor, casamento e família.

Fonte: Revista Reação - Edição nº 92. 

Você o conheceu antes ou depois do acidente? Todo mundo imagina viver em um mundo racional, acham que tem controle total sobre a vida, os sentimentos e os acontecimentos.Não podemos prever tudo, podemos planejar, organizar nossa agenda, mas imprevistos, acidentes e mudanças nos alcançam a todo instante.O envolvimento afetivo explica nossas escolhas amorosas, gostamos de alguém de verdade e nos esforçamos para fazer concessões, adaptações e renuncias.

Todas as pessoas tem necessidades únicas que, dentro da lógica do amor, satisfazemos de bom grado, aceitamos a singularidade do parceiro do afeto.Amantes, amam a alma e o corpo do objeto do amor,amor do amanhecer ao entardecer dos dias, dos anos e da vida, das transformações da idade, das deficiências adquiridas das novas necessidades descobertas.
Casal unido por afinidades e afetos compartilhados, tem histórias em comum, compreensão mutua e perdão mais natural, com os anos acumulam memórias e se esquecem das mágoas, livres para desfrutar do outro, anseiam pela intimidade, o abraço, o beijo, o sexo possível.

Ele não enxerga, mas consegue me ver por dentro, me envolve com seu toque conhecido. Ela não anda com seus pés, mas me acompanha em tudo, rodando em sua cadeira. Ele não ouve minhaspalavras, mas compreende minhas intenções, advinha meus desejos e se esforça para realizar meus sonhos, compreendo suas necessidades e as satisfaço para ter o privilégio de ter sua alma junto a mim.

Aliança abençoada no mínimo a dois, famílias, amigos que vão aos poucos compartilhando histórias e sentimentos, incorporando às vezes, a contragosto as diferenças dos outros, se adaptando, transformado as rotinas, flexibilizando alguns hábitos, abrindo mão, concedendo, nada demasiado rígido, sem perder o sagrado da família.


Relacionamento íntimo é construção do dia a dia, histórias compartilhadas no fim de cada dia, sonhos realizados com apoio de ambos, frustrações suportadas, objetivos de longo prazo, dificuldades vencidas, lágrimas e perdas consoladas com apoio constante, encorajamento e o doce olhar ao acordar acompanhado.

Sexo, uma necessidade de todos, aquele gostoso tocar e ser tocado, aquela resposta espontânea de um corpo que se abre para o prazer, sem hora marcada, sem frequência determinada, aquele beijo, porque beijar é muito íntimo, guardar segredo dos detalhes da intimidade do casal, não expor o outro de nenhuma forma, ser cúmplice de gemidos e palavras impronunciáveis em público, do suspiro mais profundo, do grito derradeiro antes do orgasmo.
Uma pessoa com deficiência física pode ter uma simples incapacidade de movimentar um dos membros, uma monoparesia, até ter uma tetraplegia onde não consegue movimentar nem sentir nenhum membro do corpo. A pessoa com deficiência física adquiri maior autonomia com treinamento especifico, aquisição de equipamentos especiais, mobiliário adequado, acessibilidade física e atitudinal.

As soluções gerais para resolver os problemas ligados as AVAS (Atividades de Vida Autônoma e Social),higiene, alimentação, vestuário e suas vertentes ligadas à intimidade sexual são de responsabilidade da pessoa com deficiência, quando existe alguma necessidade especial, a própria pessoa sinalizada para seus parceiros.
Na intimidade de pessoas com baixa visão ou cegueira é comum que seus parceiros descrevam os detalhes de tudo que é visual, naturalmente não de forma sistemática, mas a pedido da pessoa com deficiência visual, o casal se adapta e contorna as dificuldades sensoriais encontradas na rotina do dia a dia, e na intimidade, o toque e o contato dos corpos, dita o ritmo do sexo que é enriquecido com os aromas do amor e os sons do prazer.

A pessoa com deficiência auditiva, e o surdo, ao se relacionarem na intimidade tem de atentar para o fato de os corpos produzirem sons e ruídos típicos, tomar aquele cuidado básico para não se expor quando se relacionam em locais sem controle do som, não ouvir não impede o surdo de namorar, casar, ter filhos e desfrutar dos prazeres do amor, os surdos tem necessidade de receber informações claras sobre sexualidade em LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) como forma de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e aprimoramento da atividade sexual, diminuindo tabus e quebrando bloqueios.
Necessidades especiais que pessoas com deficiência podem ter nos relacionamentos de longo prazo, envolvem a extensão de suas incapacidades e o grau de autonomia conquistado após a utilização de tecnologias de apoio e treinamento em centros de reabilitação. 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Nova York adota novo símbolo internacional de acessibilidade



Novo símbolo internacional
O velho símbolo internacional de acessibilidade que mostrava um personagem estático numa cadeira de rodas foi substituído por um personagem em movimento. Esse símbolo foi adotado oficialmente em Nova York.
Após vários anos de pedidos de mudança, os designers do Gordon College, em Massachusetts, criaram um novo símbolo, com um personagem dinâmico, ativo,independente, com os braços prontos para qualquer ação.
“É algo bem voltado para o movimento”, disse Victor Calise, Comissário do Gabinete do prefeito de Nova York para Pessoas com Deficiência, ao jornal The Chronicle of Higher Education.
Calise, que ficou paraplégico em um acidente de bicicleta aos 22 anos, planeja começar a mudança do logotipo neste verão, em Nova York.
Comparação entre os símbolos (novo e velho)
Fonte:http://boingboing.net/
Tradução livre realizada pelo Blog Deficiente Ciente

domingo, 7 de julho de 2013

Americana cega lança livro de receitas e estimula debate sobre cozinhar sem enxergar

        
Christine Ha faz um preparo para empanar frangos na semifinal do reality show "MasterChef", exibido no ano passado
Christine Ha faz um preparo para empanar frangos na semifinal do reality show “MasterChef”, exibido no ano passado.
 
“Você é mesmo cega?”, pergunta o chef Gordon Ramsay, que acumulou 11 estrelas no guia “Michelin”, à americana de ascendência vietnamita Christine Ha, 33.
O apresentador do “Masterchef”, reality show com cozinheiros amadores, estava diante de um ceviche de caranguejo que Christine preparara na terceira edição do programa. Um ceviche, nas palavras de Ramsay, temido pela verborragia pouco elogiosa, “visualmente deslumbrante”.
Pois, em setembro do ano passado, ela (a única cega!) desbancou outros 17 cozinheiros e venceu o “MasterChef”, que foi ao ar nos EUA. Ainda não há previsão para ser transmitido no Brasil.
Fazia parte do prêmio, somado a um valor equivalente a R$ 560 mil, a publicação de um livro. “Recipes from My Home Kitchen: Asian and American Comfort Food” (receitas de casa: “comfort food” asiática e americana) acaba de chegar às livrarias dos Estados Unidos.
O lançamento estimula o debate sobre o desafio que é cozinhar -cortar ingredientes, usar o fogão, montar pratos bonitos- sem um dos sentidos.
Para desvendar esse desafio, a reportagem entrevistou Christine Ha e acompanhou dois deficientes visuais na cozinha, clientes da Fundação Dorina Nowill para Cegos.
A musicoterapeuta Helena D’Angelo, 29, que você vê na foto acima, cozinhava quando criança e quis manter o hobby depois de perder a visão, aos 13 anos.
A delicadeza, até lentidão de movimentos, não escondem sua desenvoltura entre panelas, facas e o fogão. “Pelo olfato, sei se o tomate no molho está cru. E brinco que um bolo assando tem três cheiros -o mais gostoso é o dele pronto”, diz.
A musicoterapeuta Helena D'Angelo manipula alimentos na cozinha Dedo de Moça, em São Paulo
A musicoterapeuta Helena D’Angelo manipula alimentos na cozinha Dedo de Moça, em São Paulo
COZINHA DE SENTIDOS
“Escuto as bolhas na água para saber se ela ferveu; sinto o perfume do alho antes de ele queimar; toco a carne para saber se está crua, crestada ou ao ponto.”
É com essa espécie de passeio pelos sentidos que Christine Ha responde à pergunta de quais táticas desenvolveu para cozinhar sem poder enxergar.
A americana começou a se aventurar entre panelas e talheres quando ainda enxergava e morava sozinha, durante a faculdade.
Era um modo de tentar recuperar os temperos e sabores asiáticos da mãe, imigrante vietnamita no Texas (EUA), com mão boa para a cozinha -ela morreu quando Christine tinha 14 anos, e não deixou receitas escritas.
Uma doença autoimune, que em 1999 a deixou cega (ela enxerga como se houvesse uma grossa nuvem de vapor à frente), não interrompeu essa procura.
Daí, como conta à Folha, Christine valoriza tanto a “comfort food”.
Depois de surpreender os espectadores ao vencer o reality show “MasterChef”, ela lançou no mês passado seu livro de receitas asiáticas. A seguir, leia trechos da entrevista.
Folha – Você tinha visão perfeita quando aprendeu a cozinhar. De que sente falta hoje?
Christine Ha – De ver os ingredientes -seu frescor, suas cores vibrantes. Há ingredientes com os quais eu não tinha mexido até perder a visão; jamais saberei como é trabalhar com eles.
Quais?
O uni (ouriço-do-mar), por exemplo. Isso vale também para técnicas -eu não estava habituada a filetar peixes.
Você apurou outros sentidos depois que ficou cega?
Agora, mais do que antes, os uso mais. Mas o mais importante é o paladar -ele me ajuda a desvendar texturas e temperatura.
Sabores e aromas da sua infância foram potencializados?
Eles ainda me trazem memórias de quando eu podia enxergar. E muitas vezes são ainda mais intensos, sim.
No programa, a apresentação dos pratos é fundamental. Como alcançar isso?
Em casa isso não importa, mas, se estou servindo outras pessoas -amigos ou os jurados do programa-, confio na memória: posso lembrar de como cores se parecem, o contraste entre elas; sinto as coisas com a mão e as visualizo mentalmente.
Como você lida com os perigos da cozinha, como facas e fogo?
Sou cautelosa, meticulosa, me mexo mais devagar. Prefiro ser lenta e segura do que afobada e machucada.
Você achava que poderia vencer o programa, apesar da deficiência?
Eu não pensava nisso, nem me importava. Preocupava-me mais com a jornada do que com seu resultado. Estava lá para aprender e ser a melhor no que pudesse, apesar de minhas limitações.
Você parece ter se especializado em “comfort food”. Como define essa cozinha?
É a comida que dá nostalgia, que invoca emoções e faz de algo simples, como comer, uma experiência transformadora. Eu levo minhas memórias para a cozinha. O livro é minha maneira de dividir esse meu mundo com os outros.
RECIPES FROM MY HOME KITCHEN
AUTORA Christine Ha
EDITORA Rodale Books
QUANTO US$ 23,99 (cerca de R$ 54), na Amazon.com (224 págs.)
Fonte: Folha de S. Paulo